Vem o fim, o fim vem...
Como quem sonha um sonho terrível
Sozinho,
indo e vindo, órfão de pai e mãe
Achei-me
tateando na escuridão
E
andei sozinho na imensa floresta
Das
cento e quarenta e quatro mil árvores
As
últimas que restaram do grande incêndio
Que
sacudiu, ameaçou e varreu a terra
E
queimou até os horizontes longínquos
Caminhando
entre restolhos e escombros
Na
vastidão desolada que restou
Procurei
por um irmão, e não achei
Implorei
por pão e ninguém me ouviu
Até
as maiores distâncias que as vistas alcançam
Tudo
é deserto.... Os mares estão mortos
A
terra geme.... O céu permanece em silêncio
A
terra está coberta de cidades em ruínas
Escombros
de antigos castelos, jazem
Amontoados
sobre a areia escaldante
Morada
de escorpiões, serpentes e ratos
Não
há mais flores nos campos verdejantes
Não
há mais campos verdejantes, nem céu azul
Nem
pássaros cantando nos galhos das árvores
As
estrelas do céu foram violentamente abaladas
Não
há nenhum trem na estação
As
cidades estão desertas
Os
templos estão vazios
Secou
o vinho, acabou o pão
Não
há festas, nem alegria
Nem
corações exultantes
Há
um gosto amargo na boca
E
uma tristeza profunda no olhar
Cambaleantes
de ansiedade, bêbados de desespero
Como
ovelhas amedrontadas, perdidas e abandonadas
Escondidos
nas fendas e buracos da terra
Os
homens são raros e difíceis de encontrar
A
terra está cheia de ameaças, cinzas e fogo
Ondas
de empáfia, violência e indiferença
Se
encontram num terremoto de terror
No
jogo da vida, homens perdem a alma
E
negociam e penhoram o próprio coração
Almas,
sonhos, esperança, fé, amor e vidas
Tudo
tem preço, tudo pode ser comprado
Tudo
pode ser roubado e barganhado
Basta
ter desejo, paixão e força de vontade
Não
se leva em conta o caráter de ninguém
A
terra está profundamente doente
Como
no dizer do profeta Oséias
Só
prevalecem o perjurar, o mentir
O
matar, o furtar, e o adulterar
Há
violência em cima de violência
E
homicídios sobre homicídios
Ultrapassam
todos os limites!
Dos
antigos dias de retidão, fé, amor e esperança
Quando
o caráter era a maior riqueza de um homem
Já
não se fala; esquecidos no passado
Não
fazem mais sentido, agora que a lua
Paira
sobre nós, vermelha como sangue
No
deserto infinito, uma mulher vestida de branco
Chora
e corre, perseguida por um dragão
Muito
alto, acima das nuvens de escuridão
Uma
águia paira de asas abertas e olhar triste
O mundo arde em incêndios
As fontes de água secaram
Os cervos já não encontram
Lugar onde saciar a sede
Sem ter para onde ir
A vida chora e agoniza
Em prantos, desesperado
O mundo grita e implora
E o clamor dos párias e desajustados
A
multidão dos que não tem voz
Os filhos angustiados e desorientados
De
uma terra corrompida e amaldiçoada
Onde
a semente de justiça, nunca vinga
Se
perde no infinito da frieza do mundo
Como
uma doença muito contagiosa
Por
toda parte, o mal avança e prospera rápido
O
diabo arrebanha almas e manipula mentes
O
exército das trevas cresce e se multiplica
Um
espírito de corrupção, toma o poder
E
um espírito de alienação, guia o povo
Que
ri, enlouquece, festeja e aplaude...
A
mentira finca raízes no coração do mundo
Todavia,
acima da multidão de famintos
E
do choro que varre o acampamento
Dos
aflitos e desesperados da própria vida
Acima
do colapso de todas as coisas
Além
da noite escura, solitária e fria
Em
algum lugar muito distante
Acima
dos homens e das feras
Acima
das nuvens do céu
Acima
dos reinos deste mundo
Onde
os nossos olhos não alcançam
Onde
o inferno termina e a morte não tem poder
Já
se pode ouvir o tropel dos cavalos
O
som de trombetas e o rilhar de espadas
Um
amanhecer se aproxima e faz a terra
Gritar,
pular, chorar e estremecer...
Um
solitário profeta se aventura pela cidade e grita
O
fim vem, o fim vem... E é imediatamente apedrejado
_VBMello
_VBMello