Fome e sede de justiça
A
vida inteira, sem cessar
Eu
tive fome e sede de justiça
Já
chorei de fome de justiça
Já
perdi noites agonizando
De
fome e sede de justiça
Já
lutei e já briguei por justiça
Já
gritei e reclamei por justiça
E a
minha fome de justiça
Jamais
foi completamente saciada
Olho
ao redor
Escuto
vozes
Ouço
rumores
Vejo
coisas
E
ela só faz aumentar
Está
nos meus ossos
Está
no tutano da minha alma
Movido
por essa insaciável fome de justiça
Todo
dia, o ano todo, sem cessar
Eu me
curvo em oração diante de Deus
Não
tenho outro pedido
Não
tenho outra oração
Já
não suporto mais
Anseio
por justiça
Nesse caminho, não há perdão
Quem busca e espera por justiça
Será sempre medido pela lei da indiferença
O mundo não dá a outra face, jamais
O mundo não faz restituição, nunca
O mundo nunca se cansa de fazer injustiça
O mundo não tem consciência
O mundo é um cão danado
Uma serpente que só pensa em si
O mundo é uma sanguessuga insaciável
Que grita sem parar: dá, dá, dá, dá
O mundo jaz no Maligno
Diante
da face de um inimigo tão covarde
Uma
tentação constante paira sobre
A
cabeça de quem sofre fome e sede de justiça
Fazer
justiça com as próprias mãos
Já
lutei contra essa tentação
Ferro
contra ferro, espada contra espada
É
tão fácil iniciar uma guerra
É
tão fácil dar um tapa na mesa
É
tão simples chutar o balde
Nunca
tive medo de cara feia
Nunca
tive medo de homem forte
Enfrentar
gigantes é a sina de todo cristão
Então,
duas batalhas se travam em mim
Uma
por justiça e verdade
Outra
para não fazer justiça
Com
as próprias mãos
Sim, já chorei de fome de justiça
E já chorei diante de Deus
Pedindo forças para não
Começar uma guerra
Deus ouviu as minhas orações
Finalmente o meu sangue parou de ferver
E o meu coração alcançou alguma paz
Hoje posso dizer que desisti das guerras
Mas isso só resolveu metade do problema
O meu sangue ainda ferve de fome de justiça
Mais do que a minha própria dor
É a dor dos outros que dói em mim
Diante dessa súcia de políticos corruptos
O meu peito se rasga em oração diante de Deus
Busco justiça, só justiça, e nada mais
Diante das notícias de todo dia
Cresce a indignação e as palavras
Não podem ser contidas
É no meu espirito, no mais profundo de mim
Que eu grito, oro, choro e protesto
Raça
de víboras! Hipócritas! Raposas!
É
tão grande a minha indignação
Se
eu não fosse crente, gritaria bem alto:
Filhos
da puta! Filhos de uma cadela!
Mas
eu sou crente e essas palavras
Não
ficam bem para um homem de fé
Mesmo
quando dirigidas a essa corja
Que
saqueia o país inteiro, sem piedade
Além
do mais, sei lá, alguém muito
santo e espiritual
Ou melhor, essa gente do politicamente correto
Que tomou o controle da Igreja no Brasil
Ou melhor, essa gente do politicamente correto
Que tomou o controle da Igreja no Brasil
Poderia
dizer - com alguma verdade? - que esse modo de falar
É
só mais uma forma disfarçada de justiça própria
Então,
vou de raça de víbora mesmo, hipócritas e serpentes
Filhos
da puta... ops... Senhor, me perdoe mais esse pecado
Enfim,
corro de político corrupto
Ou
de candidato a político corrupto
Pois
nesse país doido
Para
cada corrupto
Tem
outros cem na fila
Esperando
a vez de substituí-lo
Como
o diabo corre da cruz
Em
se tratando dessa corja
Levo
ao pé da letra o Salmo 1
Não
me sento na mesa com homens injustos
Covardes
que colhem onde não plantam
E
ladrões que constroem sobre fundamento alheio
Se
me olham nos olhos, eu também olho nos olhos deles
Jamais
curvo a cabeça diante desse enxame de gafanhotos
Mas
desisti das guerras da carne e do sangue...
Claro,
algumas vezes, ainda sinto vontade dar um tapa na mesa
À
moda de Cristo, sinto vontade de fazer um chicote e, etc, etc...
Mas
não foi para guerras de chicotes
Que
Cristo nos convocou ao seu evangelho
Ele
nos convocou para uma guerra de fé
Onde
as armas são outras
Lutar à moda do mundo, não seria vencer
Seria substituir a fome pelo vazio
Seria vencer a preço de alma
Seria cantar vitória a preço de morte interior
Na verdade, isso sequer seria uma vitória
Seria se juntar ao inimigo... Pior, seria se juntar ao diabo
Seria fazer parte das trevas que se diz combater
Seria
se transformar também num canalha filho da puta
Um cão infeliz que só pensa em dinheiro e poder
Seja
como for, eu não luto essas guerras do diabo
A
minha luta é uma luta de fé, confiança e entrega
A
justiça que eu busco, pois não é justiça de homens
Só
é possível como gesto e acontecimento puro de fé
Pois
me convoca ao absurdo de orar pelos que me perseguem
E,
mais absurdo ainda, dar a outra face e amar os meus inimigos
Os
caminhos e estratégias dessa guerra estranha
Nem
mesmo, com justiça, se pode chamá-la de guerra
Pois
em momento algum, por qualquer meio
Visa a destruição do inimigo
São
todos diferentes dos caminhos do mundo
Enfim, os caminhos dessa guerra
Passam por outros caminhos
Não se trata de matar, roubar e destruir
Coisa comum em toda guerra
Aliás, no dizer de Clausewitz
A guerra não é outra coisa senão
A continuação da política por outros meios
Enfim, guerra ou política, leia-se politicalha
São duas faces da mesma corrupção
Portanto, nem na guerra, nem na politicalha
Acontece
a guerra de quem tem fome de justiça
Outra
é a vocação de quem tem fome e sede de justiça
Uma
vocação que não se ilude com promessas de poder
Nem
com poder político, nem com poder eclesiástico
É
um chamado ao espírito de verdade e justiça
Um
chamado que é um ato de adoração a Deus
Pois
é luta incansável pela verdade e pela justiça
É
uma vocação onde, mesmo as circunstâncias
Dizendo
o contrário, se tem fé e esperança nas pessoas
E,
ao invés de armas, pedras, facas e foices, estende-se a mão
Ao
invés de eliminar e matar, a vocação do homem bom
É
chamar o outro ao encontro da paz e convidá-lo
A
promover, com todas as forças, o espírito de equidade
Sim, com efeito, eu já gritei e chorei
E ainda choro de fome e sede de justiça
Todo dia, o ano todo, o tempo todo,
Eu me curvo diante de Deus
Para quem fazer justiça
É amar, perdoar, reconciliar
E tratar com misericórdia
E oro pelos meus perseguidores e inimigos
Sim, eu sei... Um dia... Amanhã, ou depois de amanhã
Essa
minha fome será completamente saciada
Mas
enquanto o amanhã não chega
E o
leão continua rondando ao derredor
Procurando
alguém para devorar
Eu
descanso completamente na justiça de Deus
Que,
ao contrário da justiça dos homens, nunca falha
Sim, meu irmão, nesta ou na outra vida, não importa
A minha fome de justiça, de uma vez por todas
Será completamente saciada
E eu ficarei satisfeito e feliz
E eu ficarei satisfeito e feliz
Com a justiça, com a imparcialidade
E com a misericórdia de Deus
Sim, há um leão ao derredor, urrando e
tramando, pois que urre e berre... Há um
Leão em mim, o Leão de Judá. A quem temerei? Sim, a quem temerei? É Deus
quem me justifica, garante e diz: Bem-aventurados os que tem fome e sede de
Justiça, pois serão fartos... É isso. Simples assim.
_VBMello