Notas sobre fé e egoísmo...
A fé é um dom gratuito de Deus
Uma alegria que nos surpreende
Uma dança para os nossos pés
Um riso para a nossa alma
Um significado para a nossa vida
Uma inspiração que nos arrebata
Humaniza, acalma e transforma
O nosso coração e pensamentos
Num mundo desumano e cheio de
competição
Onde os fracos não têm vez, e os
fortes pisam
Ela abre o nosso espírito para
outras realidades
E volta o nosso olhar – e os nossos
ouvidos
Para a simplicidade dos pássaros do
céu
Que não semeiam, nem colhem
Nem armazenam em celeiros
E chama a nossa atenção
Para a graça dos lírios do campo
Que apesar de sua imensa
fragilidade
A fé humaniza o nosso espírito
Simplifica a nossa vida
Enriquece a nossa alma
E nos torna gratos e solidários
Pelas bênçãos de Deus
E nos ensina que é melhor
Dar do que receber
No meio do deserto
Quando tudo está perdido
Quando não temos mais
Para onde ir, ela vem
Renova as nossas forças
E nos mostra o caminho
Nas noites escuras
E sem esperança
Quando a nossa vida
Parece não ter sentido
Ela nos dá sonhos
E também os meios
Para realizá-los
Porque na vida de fé
Não basta sonhar
É preciso também
Coragem para ir e realizar
Ela é uma raiz de vida
Que firma a nossa existência
Na vida de Cristo Jesus
E assim, enxertados nele
Podemos dar frutos de vida
Ela encanta e fascina em sua órbita
Tanto o coração quando a mente
E marca uma proximidade de desejos
Entre a pessoa e a Palavra de Deus
Tornando-se um seguro guia
espiritual
Para o nosso comportamento no mundo
Nos dias maus, quando tudo
desmorona
Ela é uma chama viva de amor
Que anima o coração
Ilumina a escuridão
E aquece a alma
Nos dias de inverno
Ela aponta para o retorno
Das manhãs de primavera
Ela nos arranca da nossa
individualidade
Denuncia o nosso egoísmo e vaidade
Pois acima de tudo, pela graça de
Deus
Ela vem ao nosso coração
Não como um reforço
Do nosso egoísmo
Mas como um agente de solidariedade
Uma força que se multiplica pela
comunhão
Portanto, uma inspiração que nos
tira de nós
E abre o nosso coração e a nossa
mente
Para as bem-aventuranças
De uma vida de compaixão
Graça e misericórdia
Deste modo, se diante de uma pessoa
que sofre
A alma não se desdobrar –
imediatamente
Em palavras e gestos de misericórdia
e bondade
Mas permanecer distante, fria e
indiferente
Expectadora insensível da dor dos
outros
Cuidando apenas dos seus próprios
interesses
Então, lamentavelmente
Por mais que se fale de fé
Entregue profecias
Expulse demônios
Fale línguas estranhas
Cante louvores e faça oração
O que existe, não é fé
É só qualquer coisa
Quando a misericórdia e a humildade
cessam
Quando o pão não é repartido com o
faminto
Quando a justiça, por qualquer
motivo, é retida
Quando se vira a face diante da
agonia do aflito
E as orações tomam o lugar dos
gestos de amor
Então, sem perceber, apesar das
bravatas espirituais
Dos cânticos e dos muitos
testemunhos de vitória
Cruzou-se a linha que separa a
verdade da mentira
Vestiu-se a horrenda máscara da
hipocrisia
Caiu da fé e perdeu o rumo do que é
ser cristão
Pois ser cristão
Não é outra coisa
Senão, de fé em fé
Sem justiça própria
E sem jactância
Querer e amar a Deus
Através da misericórdia
Com que cuidamos e animamos
A alma das pessoas cansadas,
aflitas
Sobrecarregadas de espírito
Então, neste caso, quando a
indiferença vira a regra
Quando os cultos de oração – e arrecadação
Continuam cheios e sempre sem
interrupção
Mas o pão não é mais compartilhado
com o faminto
Quando a religião vira ritual
decorado e destituído de vida
E o amor morre nos pântanos
sombrios da boa intenção
Já não adianta mais falar de amor e
orar sem cessar
É preciso parar tudo, voltar ao
primeiro amor
E recomeçar a vida, a partir da fé
pura e verdadeira
Pois, dentro e fora da alma
A fé tornou-se sem sentido de ser
E, com efeito, já não há mais fé
Pois, a prova da fé verdadeira
É a loucura do amor puro
E desinteressado de recompensas...
_VBMello
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