Amigos de Jó...
Estar diante da inocência
E não a perceber
Eis o pecado
Dos amigos de Jó
Eles tinham olhos
Mas não enxergavam
Tinham ouvidos
Mas não escutavam
Eram cegos e surdos
Para os gritos da inocência
Incapazes de descobrirem
A verdade oculta sob a dor
Mesmo sentados ao lado
Não enxergavam a essência
Teólogos das coisas exteriores
Não vislumbravam coisa alguma
Além da mera e simples aparência
Para eles, a aparência da pessoa
Era tudo o que importava
Incapazes de discernirem a alma
Em nome da justiça de Deus
Cometiam injustiça
Contra um homem inocente
Homem este, que Deus mesmo
Tinha como inocente e justo
Por trás do aparente temor de Deus
Eles estavam saturados de justiça própria
Não eram agentes de consolação
Eram agentes do olho por olho
Pregadores de medo e acusação
Agentes de martírio e angústia
Roubadores de esperança
A boca cheia de acusações
O coração cheio de teorias
A alma cheia de justiça própria
Cegos, surdos e incapazes
De reconhecer, sob a máscara
Do sofrimento, a face da inocência
Estavam ali, sentados perto dele,
para consolá-lo
Mas só conseguiram causar mais dor e tormento
Não sabiam o óbvio, isto é
Que na dor e no amor, é pecado
Perder tempo construído teorias
Diante do amor e da dor
O silêncio é sagrado
E um simples abraço
Vale mais do que mil teorias
Diante de uma pessoa que perdeu
tudo
Vale mais um olhar puro de
compaixão
Do que mil explicações teológicas
Diante de uma pessoa sofrida e combalida
Mais vale calar do que bancar o
sábio
O mundo não perece por falta de
teoria e sabedoria
Não perece por falta de justiceiros
e acusadores
Perece, isso sim, por falta de amor
e compaixão
Os amigos de Jó, que erraram
completamente
Ao tentar explicar e teologizar
sobre
A verdadeira natureza dos
sofrimentos dele
Servem de sinal e alerta para nós
Diante dessa narrativa
Aprendemos que quando somos
Lançados diante daquilo
Que não compreendemos
É melhor calar... Do que julgar
Aprendemos que a pessoa que sofre
E geme de desespero, é sagrada
Aprendemos que diante de alguém
Desesperado, aflito e angustiado
O único comportamento aceitável
Não é criticar, julgar ou apontar
É ajudar, consolar e acolher
Ou então, calar...
Porque é muito melhor o silêncio
De quem não tem o que pensar e
falar
Do que, pela precipitação das
palavras
Estar diante da inocência
E não a perceber
_VBMello