A Morte do Rico

A Morte aproximou-se mais e retrucou:
"Sou a Morte. Reflete e escolhe tuas
palavras. " O rico replicou: "Que queres de mim tão cedo? Que esperas
dos poderosos como eu? Vai visitar os pequenos. Sai daqui, com tuas unhas
cortantes e tua cabeleira enrolada como serpentes. Vai. Não tenho nenhuma vontade de ver tuas asas grotescas e
teu corpo disforme. "
Mas, depois de um silêncio turbado, retratou-se:
"Não, não, ó Morte benevolente, não me julgues
por minhas divagações. O medo faz dizer o que a razão condena. Toma uma porção
do meu ouro, ou algumas almas de meus escravos, e poupa-me. Tenho contas com a vida,
que ainda não liquidei. Tenho créditos a receber. Tenho, pelas ondas, navios
que ainda não alcançaram o porto. Tenho, sob a terra, sementes que ainda não
germinaram. Leva o que quiseres dessas riquezas, mas poupa-me. Tenho concubinas
belas como a aurora: escolhe entre elas a que desejares. Escuta, ó Morte, tenho
um filho único. É a concretização de todas as minhas esperanças. Leva-o, e
deixa-me. Leva tudo o que quiseres. Leva tudo. Mas poupa-me."
Então a Morte pôs a mão sobre a boca do escravo
da vida e tomou sua verdade e a entregou ao vento. . ."
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Areia e Espuma – (Khalil Gibran)
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