Flores na escuridão
Nos antigos dias de sombra e morte
Perdido na noite escura
Quando a minha mãe
Me virava a face
E os meus irmãos todos
Corriam da minha presença
E a minha fé era um problema
Sem ter a quem me apegar
Sem ter a quem me apegar
Nem onde me esconder
Do leão que me perseguia
Fiz da luz das estrelas
A luz dos meus olhos
Fiz do bramir das ondas do mar
O bramir e o pulsar do meu sangue
Correndo com violência nas minhas veias
Entrei pela contramão da vida
E como alguém que se equilibra
No fio de uma corda bamba
Levado pela fé somente
Sem rede de proteção
Fiz do som do vento
O som da minha respiração
E das asas dos pássaros
Eu fiz a minha liberdade
Lancei-me no nada e flutuei
Pelos caminhos da eternidade
Vislumbrei flores no deserto
E elas eram como estrelas
Que brilhavam no chão da terra
E elas eram como estrelas
Que brilhavam no chão da terra
Vi intensa luz na escuridão
Nas profundezas do meu coração
A esperança, ainda outra vez
Renasceu e brincou comigo
Das palavras de Cristo
Eu fiz pão, vinho e mel
E na solidão e na dor
A minha alma se fartou de luz
E o meu coração conheceu a fé
E os meus lábios beberam e verteram
A graça e a suavidade da sabedoria eterna
No chão duro da minha existência
Uma nascente brotou
O céu clareou
A tempestade passou
Um jardim floresceu
Um pássaro cantou...
E no amanhecer de mais um dia
Como em qualquer outro dia
Outra ilusão se apoderou da minha alma
E eu, pobre miserável, que há muito tempo
Estava triste e morto, renasci...
até o cair de mais um dia
*Texto escrito em 2011, numa tarde chuvosa.