Um homem perplexo...
Sim, eu confesso: eu sou um homem perplexo
Não,
porém, desanimado – talvez só um pouco
Mas
não tão desanimado a ponto de perder a esperança
Apenas
o suficiente para me prevenir contra as ilusões da vida
Talvez
eu seja mais desconfiado do que desanimado
Seja
como for, em tempos como o nosso
Um
pouco de desconfiança, como dizem
Não
faz mal a ninguém
Desconfio
sempre
Das
primeiras impressões
O
diabo, sim, ele mesmo, adora chegar
Causando
boa impressão
O
diabo é o mestre da boa impressão
É na
primeira impressão
Que
ele te pega, ou não pega
O
diabo nunca chega dizendo que é o diabo
Não
é uma boa propaganda para as trevas
Se
apresentar com cara de treva
O
negócio do diabo é imitar anjo de luz
E
causar boa impressão, de cara
O
diabo lembra muita gente que eu conheço...
É
interessante o que o profeta Isaías
Disse
a respeito de Jesus
...como
raiz de uma terra seca
Não
tinha beleza nem formosura
E,
olhando nós para ele
Não
havia boa aparência nele
Para
que o desejássemos
É
isso, acredite ou não
Jesus
nunca esteve preocupado
Em
causar boa impressão em ninguém
Jesus,
imagino, nunca fez qualquer curso
De
marketing pessoal... Que coisa
Quem
Jesus realmente era
Permanecia
sempre oculto
Sob
uma aparência simples
Comum
e sem formosura
Ele
não fazia propaganda
Pois
não estava no negócio
De
vender milagres
Para
conhecê-lo, era preciso mais
Do
que ficar olhando de longe
Era
preciso se aproximar e convier
Andar,
comer e beber com ele
E
ter olhos para ver e ouvidos para ouvir
Pois
é, num mundo líquido
No
dizer de Zygmunt Bauman
Gosto
de coisas sólidas e verdadeiras
Coisas
construídas sobre a rocha
Coisas
à prova de vento e chuva forte
Nas
coisas da alma e do espírito
Não
gosto de goteiras e vazamentos
Gosto
de coisas que só vê bem
Com
os olhos do coração
Não
gosto de rumores... Gosto de fatos
Só
me encanto com o que vem da convivência
Dizem
que sou arredio.... Talvez seja mesmo
Seja
como for, gosto de testar a realidade das coisas
Só o
que sobrevive à força dos ventos
Só o
que é provado pelo fogo
Eu
levo comigo e creio
Isso
explica, em parte
Porque
tenho poucos amigos
Também
explica, acho, porque cada
Um
dos poucos amigos que tenho
Vale
por mil, e até mais, muito mais
Coisa
rara de achar é um amigo
Dizem
que vale mais do que um irmão
O
que eu concordo plenamente
Sei
lá, já vi tanta coisa
Já
vi tanto pai abusar dos filhos
Que
às vezes, mas posso estar errado - ou não
Penso
que um bom amigo(a)
Vale
até mais do que uma família inteira
Enfim,
sou assim, em se tratando de primeira impressão
No
amor, na amizade, ou em qualquer outra coisa
Principalmente
no que diz respeito
A
essas coisas que dizem que vem de Deus
Avivamentos,
milagres, etc
Sou
um desconfiado completo
Cético
até o tutano dos ossos
Gosto
de testar a realidade das coisas
Se
pedem dinheiro em troca de milagre
Dou
uma banana e dou no pé
Tudo
já foi consumado na cruz de Cristo
Não
há mais espaço para barganhas
Não
me leve a mal, eu sou assim
Claro
que eu acredito em milagres
Entretanto,
não acredito em indústria de milagres
Nem
acredito em milagreiros de plantão
Mas
essas coisas existem -, sim, existem
Pequenas
empresas, grandes negócios
Sim,
isso mesmo, quando a fé é distorcida
Quando
uma denominação qualquer
Vira
uma paródia da verdadeira Igreja
A
fé, isto é, o seu arremedo, vira o ópio do povo
A
pessoa pensa que crê, vai ao culto todo dia
Mas
no fundo só está viciada nas promessas que escuta
Promessas
essas, é bom que se diga, que Deus nunca fez
Tudo
isso me deixa perplexo e muito desconfiado
Num
passado não muito distante
Eu
acreditava em qualquer boa impressão
Ficava
impressionado com discursos e promessas
Hoje
ainda levo na alma as marcas da decepção
Virei
gato escaldado...
Agora
gosto de testar a verdade das coisas
Sei
lá, hoje em dia, com tanto lobo vestido de cordeiro
Um
pouco de desconfiança, como dizem, não faz mal a ninguém
Não
gosto de coisas construídas sobre montes de arreia
Não
gosto de fé que precisa de propaganda na TV
Não
gosto de gente que colhe onde não planta
E
fujo de quem constrói sobre fundamento alheio
Não
ando com gente oportunista que não me olha nos olhos
Não
gosto de gente exibida que só fala em dinheiro
As
coisas da alma me encantam muito mais
E
sobre a volta de Cristo, que dizer?
Aqui
a minha desconfiança vai ao máximo
Enfim,
é tanta loucura, tanto rumor
Os
sinais estão por toda parte -
dizem
O
fim dos tempos - gritam
Corre
rápido na nossa direção
E
dão sinais e apresentam provas
Fico
desconfiado de todo esse falatório
Não
entro nesse beco sem saída
Todo
mundo que anunciou
A
volta de Jesus, errou feio
Nesse
negócio de falar
Sobre
a volta de Cristo
Prefiro
errar para mais
Do
que errar para menos
Como
eu disse, todo mundo que anunciou
A
sua volta imediata, quebrou a cara
Então, se alguém me pergunta
Se
está perto ou longe
A volta de Cristo
Digo que ele voltará
Daqui uns quinhentos anos
Ou talvez, daqui uns mil anos
Realmente,
não me interesso por saber essas coisas
Fico
perplexo com tanto profeta gritando datas
Seja
como for, basta começar a falar em arrebatamento
Para
eu ligar o meu desconfiômetro e
pular fora
Esse
negócio de datas, sinais e visões do fim
Arrebatamentos,
tribulações e volta de Jesus
É um
campo fértil demais para o surgimento de falsos profetas
A
mania de anunciar a volta de Jesus - para ontem
É
tão velha quanto a história dos falsos profetas
Nesse
campo minado, todo cuidado é
pouco
É
muito fácil comprar gato por
lebre...
Perplexo
e desconfiado, vou vivendo os meus dias
Eu
teria que estar morto, completamente morto
Para
não me sentir perplexo diante de tanto rumores
Profetas,
visões, sonhos e unções especiais
Seja
como for, diante das perplexidades da vida
Deus
é o meu único guia, alimento e luz
Todo
dia, sem cessar, o tempo todo
Em
todo lugar, na terra e no mar
Diante
dos meus olhos perplexos
Às
vezes tão cansados
Outras vezes
Outras vezes
Tão
decepcionados
As faces do mundo se descortinam
As faces do mundo se descortinam
Frias,
duras e assustadoras
Como
a carranca de um leão
Que
anda e urra ao redor
E
me olham no fundo dos olhos
Mas
eu não fixo os meus olhos
Nos
olhos sombrios do mundo
Não
é desse abismo sem fundo
Que
eu tiro a minha esperança
Outra
é a fonte das minhas esperanças
Eu
fito meus olhos no céu
Contemplo
a imensidão infinita
E a
minha alma se deslumbra
Com
a beleza das obras de Deus
O
meu coração salta
A
minha pele arrepia
Os
meus lábios emudecem
Não
há palavras, nem som
Além
dos sons da natureza
Segura
sob a sombra da mão de Deus
A
minha alma descansa nas certezas da fé
De
modo tão maravilhoso e assombroso
Vejo
a noite cair e vejo o dia amanhecer
Sinto-me
cúmplice da Criação
No
fundo do meu coração
Onde
demônio algum chega ou vê
Eu
sei que para além desse tempo que vivemos agora
Para
além das aparências caóticas do nosso mundo
Existe
outro mundo que vem na nossa direção
Não
sei quando esse novo mundo acontecerá
Pode
ser daqui uns quinhentos anos, ou mais
Mas
uma coisa eu sei, no fundo do meu coração, faz tempo
O
encontro definitivo
com essa maravilhosa realidade
Que
ultrapassa todos os
meus pensamentos e imaginação
Já
aconteceu, e acontece novamente, todo dia, sem cessar
Sim,
meu irmão, acredite, eu sei o que falo
É
preciso ter um jardim florido na alma
Para
não enlouquecer no meio do deserto
Para
além da solidão do nosso tempo
Para
além das perplexidades dessa vida
Eu
aprendi a ver os portais da eternidade
Na
solidão do meu coração, quando dúvidas atrozes
Se
apresentam à minha alma
Ocasionalmente, nos dias de tentação
O meu coração é arrebatado por forças
Ocasionalmente, nos dias de tentação
O meu coração é arrebatado por forças
Que
eu nunca desconfiei possuir
E
eu me rendo por completo ao chamado da fé
Perco-me
nos caminhos da eternidade
Revigoro-me
com os sons da esperança
Embalo-me
na certeza de que as glórias do porvir
São
maiores do que os sofrimentos o presente
Refaço
as minhas forças e o meu coração se alegra
Vencida
a perplexidade, ainda que temporariamente
Sigo
em frente. Não levo bagagem, pesos ou fardos
Levo
comigo apenas o que o dinheiro não pode comprar
Amor,
fé, esperança, e uma alegria especial, que não termina
Nem
mesmo quando as lágrimas sobem aos meus olhos
E
as perplexidades da vida retornam ao meu coração
Seja
como for, pelos caminhos da mente
E
pelos caminhos tortuosos do coração
Às
vezes em saber direito para onde estou indo
Outras
vezes, sim, completamente perdido
Correndo,
parando, caindo e levantando
Perplexo
com tudo, eu vou seguindo
E no
meio de todas as minhas perplexidades
Uma
certeza e uma luz... Deus, e somente Deus
É o
meu único guia confiável
Eu me perderia e desapareceria para sempre
No reino das minhas perplexidades e desconfianças
_VBMello